top of page
14.png

História

Tailândia, 2017.

 

No tempo em que morou na Tailândia, Pricila Di Tommaso, fundadora da AMISTAR, conheceu uma grande comunidade formada por cristãos que sofreram perseguição religiosa nos países de origem e voaram para Bangkok em busca de refúgio. Lá, idosos, adultos e crianças vivem escondidos, porque — enquanto aguardam pelo processo de serem reconhecidos como refugiados — são considerados imigrantes ilegais e podem ser levados para o Centro de Detenção para Imigrantes, um lugar que ameaça a vida pelas condições extremas.

 

Confinados em “apartamentos”, na maioria com apenas um cômodo e cozinha improvisada, essas pessoas convivem com níveis altíssimos de estresse e de ansiedade gerados a partir das experiências traumáticas da perseguição, da travessia e da rotina com base no medo de serem presas e deportadas — situações que podem levar à morte. Trata-se, portanto, de uma exposição duradoura a traumas múltiplos, sem qualquer previsão de melhora.

8.png

Os Sintomas e a Abordagem.

 

Aquela comunidade refugiada em Bangkok vive sob efeitos de estresse crônico, que tem desencadeado e agravado sintomas relacionados à hipertensão, insônia, diabetes, doenças da pele, depressão, transtornos de ansiedade etc., sem mencionar o impacto nas relações familiares e comunitária.

 

Como a logística era muito limitada, tanto em relação ao local de atuação quanto ao tempo, Pricila focou numa abordagem relacional mais informal e numa intervenção psicoeducativa clara, objetiva, com uma linguagem acessível, que respeitava a pluralidade cultural e intelectual e se adaptava à realidade daqueles adultos.

 

Por meio de ilustrações, o material sobre a conscientização do estresse — criado com atividades especialmente para adultos — abordou:

 

• O que é estresse.

• Quais as consequências dele no corpo, na mente e na espiritualidade.

• Que atividades podem contribuir de alguma forma para o bem-estar daqueles refugiados.

 

Para desenvolver essas atividades, Pricila organizou grupos de 5 e 6 homens e mulheres, separadamente. Assim, todos se sentiriam mais à vontade para participar, uma vez que, em algumas culturas, as mulheres são proibidas de falar na presença de homens, ou os homens poderiam se sentir constrangidos em compartilhar as próprias fragilidades na presença feminina.

 

Em cada grupo, foram espalhados cartões com imagens aleatórias e Pricila pediu que as pessoas contassem as próprias histórias a partir da escolha de 5 daquelas imagens. A dinâmica funcionou muito bem, sobretudo quando consideramos a barreira linguística, que demandou de tradução do Português para o Inglês e do Inglês para o Urdu, língua dos refugiados daquela comunidade.

 

Com duração de aproximadamente uma hora, os refugiados foram participativos. Eles contaram sobre:

 

1. A vida deles no país de origem.

2. Como foram perseguidos.

3. A “escolha” pela Tailândia como destino de refúgio.

4. Os desafios e angústias de viver em um país onde são fortemente discriminados, permanecem correndo risco de ser presos e até de ser mortos, enquanto aguardam pelo bom fim do pedido de asilo, que quase nunca se concretiza.

 

O propósito desses grupos não foi tornar as histórias dos refugiados conhecidas para a Pricila, mas criar um ambiente acolhedor para que eles pudessem abrir o coração, ouvir a si mesmos e gerar para os outros, que estão sob as mesmas condições, uma espécie de ressonância e eco de que eles não estão sozinhos.

 

As Crianças.

 

Com as crianças, Pricila propôs uma atividade lúdica que consistiu na apresentação de uma animação sem diálogos falados. Nela, o personagem principal encontrava um “controle remoto mágico", que fazia desaparecer uma parte do corpo dele ou deixava-o completamente invisível. Ambas as possibilidades permitiam ao personagem "pregar peças" nos amigos dele ou ir a lugares sem ser percebido, tudo de forma leve e muito divertida.

 

Como se tratavam de crianças que viviam isoladas e escondidas, que não tinham acesso à escola, a serviços básicos de saúde e a atividades de lazer, Pricila percebeu que seria interessante conhecer, a partir da perspectiva das próprias crianças, o quanto aqueles impedimentos vinham impactando a vida delas. Então, após exibir a animação, pediu que as crianças desenhassem o que fariam se encontrassem um controle remoto como aquele:

 

1. Apagariam uma parte do corpo? Por que essa parte?

2. Ficariam invisíveis? Aonde gostariam de ir se não pudessem ser vistas?

 

A Dor.

 

Todos os desenhos expressaram como aquelas crianças se sentiam, mas três figuras chamaram mais atenção.

 

1. O avião que voltaria invisível:

- Para o país de origem delas.

- Para levá-las aos países de acolhimento onde pudessem ter liberdade.

 

O superpoder da invisibilidade:

2. Que daria a possibilidade de prender os perseguidores da família delas.

3. Que eliminaria os medos, angústias, tensões e desesperanças delas, apagando a região do corpo em que geralmente esses sentimentos são traduzidos em sensações, como dor na barriga, aperto no peito e "nó" na garganta.

 

Esses sinais apontaram para um grande problema: as crianças estão, silenciosamente, pedindo ajuda.

 

E como responder a isso?

 

Ao longo do trabalho que vem fazendo desde 2013 com refugiados, Pricila chegou à conclusão que, dependendo do contexto em que vivam, muitas vezes eles só podem contar consigo mesmos. Esse era o caso daquelas pessoas na Tailândia, que não tinham acesso a redes de suporte externas à comunidade.

 

No entanto, essas relações internas encontram-se desgastadas, porque são formadas por indivíduos esgotados que com frequência, também vêm de culturas que não incluem as crianças nos processos de tomada de decisão da família.

 

Resumindo, como ajudar essas crianças com a participação dos adultos que estão ao redor delas e que também precisam de ajuda? Pricila entendeu que um caminho possível seria fortalecer o vínculo entre eles. E com o desejo genuíno de transformar a história dessas relações, nasceu o livro infantil Bondy, o Pássaro Viajante.

 

Bondy, o Pássaro Viajante é uma ferramenta que pode ser aplicada em todos os lugares onde uma criança — “sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição  ” — estiver.

 

Essa cativante história conta sobre Bondy, um passarinho que faz parte de uma família de aves migratórias e descobre, acidentalmente, que ela vai deixar o bosque onde moram. Dê só uma espiadinha.

 

O livro se tornou a semente da AMISTAR, que era para ser apenas um projeto, mas se transformou em uma Comunidade. E essa Comunidade está ficando cada vez maior, porque você está chegando! Conheça os nossos projetos pelo mundo!

 

 

 

 

 

 

1 Fonte: Declaração Universal dos Direitos Humanos - Assembleia Geral das Nações Unidas

1

bottom of page